O que poderá acontecer se a China invadir Taiwan?
Uma coisa é bloquear um território ou atacá-lo de fora e outra é tentar invadir uma ilha. Isto, de acordo com especialistas, é muito caro em vidas e recursos. É o que a China enfrentaria no caso de invadir Taiwan.
Phillips O'Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade de St. Andrews, na Escócia, fez uma análise do assunto para a CNN, em junho de 2022. Para ele, se a China invadir Taiwan, será "um massacre para a Marinha chinesa".
À primeira vista, não é fácil entender como a China poderia ter problemas para derrotar Taiwan (independentemente do que os Estados Unidos possam fazer), já que o exército chinês é um dos mais poderosos do mundo.
Mas conquistar território, ganhar o controle efetivo dele, requer tropas no terreno avançando centímetro por centímetro, e isso significa pesadas baixas.
Ben Lendon e Ivan Watson concluíram na CNN que uma invasão de Taiwan seria uma espécie de desembarque na Normandia de dimensões muito maiores.
O artigo recorda que em toda aquela operação, cuja campanha durou três meses, estima-se que houve meio milhão de soldados mortos, feridos e desaparecidos.
Os analistas acrescentam à CNN que não seria fácil para a China encontrar um lugar onde os desembarques fossem tranquilos: "Os especialistas identificaram apenas 14 praias que se encaixariam bem na operação e Taiwan sabe muito bem quais são. Passou décadas cavando túneis e bunkers para protegê-las.
Antes do desembarque, porém, haveria a operação naval para cercar a ilha e isso também seria, segundo o já citado professor Phillips O'Brien, difícil.
Ele sustenta que os taiwaneses compraram e produziram, de forma massiva, pequenos mísseis capazes de afundar navios chineses sem esforço e sem que os chineses pudessem localizar e neutralizar facilmente esses disparos.
Em um artigo publicado no The New York Times, Amy Qin e David E. Sanger destacam como Taiwan optou por sistemas de defesa de "pequenas coisas". "Essa lista inclui mísseis de cruzeiro móveis para defesa costeira, minas navais, pequenos navios de ataque rápido e artilharia móvel".
No entanto, a imensa superioridade aérea da China no caso de um ataque a Taiwan pode ser admitida. Mas, novamente, há a diferença entre destruir um território com bombas e conquistá-lo.
Os Estados Unidos, em princípio, provavelmente, não ficariam de braços cruzados. De acordo com uma análise publicada pela Reuters, em 2021, "para a aliança americana, uma invasão chinesa de Taiwan seria um golpe devastador. De uma só vez, o país perderia seu status de potência preeminente na Ásia".
Os analistas, em todo caso, tendem ao pessimismo e na análise da Reuters pode-se ler: "Se os Estados Unidos optassem por defender a ilha, não há garantia de que derrotariam um ELP (Exército de Libertação Popular - exército chinês), cada vez mais poderoso, segundo os comandantes estadunidenses atuais e anteriores."
No entanto, a luta por Taiwan não envolve apenas os Estados Unidos e a China. O artigo da Reuters garante que "para o Japão é vital evitar que a China se estabeleça em suas rotas comerciais".
"De Taiwan, o exército chinês pode ameaçar as ilhas do sul do Japão e dominar as rotas marítimas que transportam suas importações e exportações", aposta a análise.
A guerra em Taiwan viraria um conflito multilateral sem, por enquanto, saber qual o grau de envolvimento que as diferentes potências teriam.
A guerra na Ucrânia mostrou que não é fácil nem rápido conquistar pela força um povo disposto a defender-se. Mesmo para uma superpotência como a Rússia.
E então há uma lei básica de toda guerra: defender requer menos recursos do que atacar e conquistar terreno. Isso também foi visto na Ucrânia.
Seja como for, defender-se contra agressões externas tem um custo brutal em vidas humanas. Todas as partes sabem disso.
A Reuters fala, em sua análise detalhada, de várias fases de uma possível guerra em Taiwan.
A China bloqueia Taiwan e simplesmente espera uma rendição. Nesse cenário, as tropas chinesas utilizariam as Ilhas Matsu, onde, em agosto de 2022, realizaram suas manobras devido à visita de Nancy Pelosi. Manobras que foram um teste de bloqueio.
A Reuters contempla um segundo cenário: a invasão da ilha de Kinmen, taiwanesa mas a apenas seis quilômetros da costa chinesa.
A Reuters continua a especular que, após o primeiro bloqueio e a tomada de um pedaço de terra taiwanesa, outro bloqueio total ocorreria, deixando a ilha sem suprimentos, à mercê de ataques aéreos e desembarque de tropas.
Seria uma guerra na qual, em princípio, estariam envolvidos países como os Estados Unidos e o Japão.
Em outros tempos, as guerras eram mais "previsíveis". Mas vivemos tempos conturbados e o que parece impossível acaba acontecendo.
A pandemia e uma guerra em plena Europa, como a da Ucrânia, são exemplos disso.