Por que a plantação maciça de árvores é uma má ideia?
Há muito tempo, o plantio maciço de novas árvores tem sido visto como uma boa solução para compensar as emissões de CO2, mas, atualmente, é cada vez mais questionado.
A justificativa original para o plantio de árvores era o fato de elas atuarem como sumidouros de carbono: absorvem CO2 por meio da fotossíntese e o armazenam fora da atmosfera, neutralizando, assim, as emissões humanas.
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Nos últimos anos, este método tem sido amplamente utilizado por grandes empresas, com o objetivo de compensar as suas elevadas emissões de gases de efeito de estufa.
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O setor do transporte aéreo é um dos que mais aprecia esta prática. No final de 2019, a Air France anunciou a compensação das emissões de CO2 dos seus 450 voos domésticos diários.
Citada pelo 'Le Monde', Anne Rigail, diretora-geral da empresa, mencionou projetos para a "plantação de árvores, proteção florestal, transição energética e até preservação da biodiversidade".
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Mas alguns especialistas consideram que a plantação de árvores pelas empresas é uma estratégia de “lavagem verde”, uma vez que esta ação não anula diretamente as consequências de uma atividade poluente.
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Myrtho Tilianaki, da ONG CCFD-Terre Solidaire, concluiu, ao estudar as estratégias de carbono de diversas empresas, que estas ações, muitas vezes, mascaram a ausência de medidas para reduzir as emissões.
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Certas práticas podem ser inclusive abusivas: “Tivemos casos de projetos de compensação de carbono que levaram a intimidações, despejos e fenômenos de apropriação de terra”, acrescenta Myrtho Tilianaki, citado por 'France 24'.
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Mas a plantação de árvores é realmente eficaz como um meio para neutralizar o carbono? Esta não é a opinião de um número crescente de cientistas e figuras públicas.
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Bill Gates declarou, durante uma conferência organizada pelo New York Times, que não planta árvores, pois considera a prática um “total absurdo”.
A opinião do fundador da Microsoft é confirmada por um estudo citado pelo Geo, publicado em outubro de 2023. Segundo os seus autores, a plantação massiva de árvores teria mais desvantagens do que benefícios, principalmente em regiões tropicais.
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“A sociedade reduziu o valor destes ecossistemas a um único parâmetro: o carbono. No entanto, sua captura é uma pequena parte dentro das funções ecológicas essenciais que as florestas tropicais e os ecossistemas de pastagens desempenham”, aponta a revista Trends in Ecology and Evolution.
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Além disso, as espécies de árvores escolhidas são muito pouco variadas. Em alguns países, florestas que eram muito diversas tornaram-se “massas homogéneas”, segundo um investigador de Oxford, citado pela AFP.
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Esta homogeneidade torna as árvores “muito vulneráveis a doenças, ao mesmo tempo que tem um impacto negativo na biodiversidade local”, explica o mesmo cientista.
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As árvores são selecionadas por sua velocidade de crescimento ou por seu valor como madeira ou celulose. Portanto, mais cedo ou mais tarde serão cortadas, o que libertará carbono e anulará o impacto positivo da plantação.
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Outro efeito perverso é que o plantio de árvores reduz o espaço agrícola disponível, elevando o preço dos alimentos.
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Como poderíamos aproveitar o potencial de absorção das árvores sem causar danos colaterais aos ecossistemas? O Royal Botanic Gardens, de Kew, no Reino Unido, e a organização BGCI (Botanic Gardens Conservation International) propuseram dez regras de ouro.
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A primeira regra é proteger as florestas existentes, levando em conta o tempo que necessitam para se recuperar, antes de iniciar o replantio.
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Também é aconselhável evitar prados e zonas húmidas e selecionar espécies de árvores resistentes e ricas em biodiversidade.
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Em 21 de setembro de 2023, os estados membros da União Europeia concordaram em proibir declarações de impacto ambiental neutro ou positivo baseadas exclusivamente na compensação de emissões de CO2.
De fato, a compensação geralmente consiste no plantio de árvores sem qualquer preocupação com sua eficiência ambiental. A prioridade, agora, é que as empresas estejam implicadas na redução direta das emissões de CO2.
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