Por que sentimos necessidade de comer doces após uma refeição?
Depois de almoçar, muitas pessoas sentem uma vontade incontrolável de comer algo doce e, de fato, somos capazes de devorar uma deliciosa sobremesa, mesmo quando já estamos satisfeitos.
Um estudo realizado por Barbara Rolls, da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos, revelou o motivo.
A palavra-chave é diversidade. Logo depois de ingerir um enorme prato de sopa, perdemos o interesse por este tipo de alimento. Mas se, em vez de outra porção de sopa, houver uma saborosa torta de limão, nosso apetite é novamente acionado.
Isso significa que somos naturalmente treinados para comer alimentos diversos. Não é à toa que nosso apetite diminui quando comemos sempre a mesma coisa. Para satisfazer nossas necessidades nutricionais, é preciso variar o tipo de alimento ingerido.
Em inglês, 'sensory-specific satiety' é um fenômeno sensorial que se refere ao declínio do prazer gerado pelo consumo de um determinado tipo de alimento, e a consequente renovação do apetite resultante da exposição a um novo sabor ou alimento.
Barbara Rolls, que estuda temas relacionados à saciedade e alimentação, há mais de 40 anos, disse, ao Daily Mail: "Embora você possa perder o apetite por um alimento que acaba de comer, outros sabores continuarão a parecer apetitosos. Por isso, sempre há espaço para a sobremesa".
Foto: Daria-Yakovleva / Pixabay
O canal de notícias Vox convidou seis voluntários para fazer um experimento sobre este fenômeno, baseado nas pesquisas de Rolls. A ideia era oferecer comida a eles e medir o grau de apetite por um ou outro alimento, no início e no final da refeição.
No primeiro dia, os voluntários receberam um prato de macarrão, que deveriam comer até estarem satisfeitos. Ao terminar, ganharam outra pequena quantidade da mesma comida. Em média, os participantes conseguiram ingerir apenas uma colherada da segunda porção.
No dia seguinte, repetiram o experimento. Mas, dessa vez, em vez de receber novamente macarrão para o segundo prato, ganharam uma porção de sorvete.
O resultado comprovou o fenômeno da saciedade sensorial específica, citada por Barbara Rolls. Os voluntários comeram três vezes mais sorvete do que macarrão, como sobremesa, preferindo mudar de sabor a repetir o prato.
Além disso, foi medido também o nível de interesse por macarrão antes do primeiro prato, numa escala de zero a 10. Os participantes disseram estar, em média, 6,2 interessados. Por outro lado, ao terminar a primeira ronda, o interesse deles baixou para 1,3 e, depois do segundo prato, para 0,2.
Ao canal Vox, Barbara disse: "A saciedade sensorial específica é justamente isso: o nível de interesse por um alimento enquanto o indivíduo o ingere".
Já o interesse por sorvete só diminuiu depois que os participantes o tomaram, e não porque estavam com a barriga cheia.
Em entrevista com Marion Hetherington, da Society for the Study of Ingestion Behavior, em janeiro de 2020, Barbara Rolls explicou: "Trata-se de fenômenos muito bem conhecidos, que todos podem compreender e vivenciar".
Quando vamos a um restaurante por quilo, por exemplo, somos capazes de encher o prato e, depois, repetir. Ou seja, enquanto houver tipos diferentes de alimentos, nosso apetite tende a manter-se alto.
Um experimento feito por Rolls mostrou que quando há variedade de pratos, as pessoas comem, em média, 60% mais.
Mas Rolls alerta: "A desvantagem é que a disponibilidade de uma grande variedade de alimentos ricos em calorias pode facilitar a ingestão excessiva e, potencialmente, levar à obesidade".
Barbara Rolls (foto) é professora de ciência nutricional na Universidade Penn State e diretora do Laboratório para o Estudo do Comportamento Ingestivo Humano.
Seu trabalho é centrado em temas relacionados com saciedade e obesidade e a influência da característica dos alimentos, tais como variedade, valor calórico e tamanho das porções, durante toda a vida.