Solaris: o programa da Europa para captar energia do espaço
Com a atual Guerra da Ucrância, a crise energética na Europa acentuou-se ainda mais. O preço das contas de luz disparou e a inflação bateu recordes em muitos países. Além disso, a chegada do inverno aumenta o consumo de energia e preocupa autoridades, famílias e empresas.
O conflito entre a Rússia e a Europa parece não ter uma saída fácil. As sanções econômicas impostas pela União Europeia fazem com que os russos ameacem cortar o fornecimento de gás, deixando os europeus sem recursos suficientes para garantir o aquecimento em épocas frias.
Diante disso, surge o plano europeu para buscar uma nova fonte de energia sustentável no espaço. Trata-se do programa Solaris.
Na foto, ministros europeus reunem-se para discutir a estratégia espacial da Europa, em Toulouse (França), 2022.
Segundo a Deutsche Welle, a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, avisa que "a crise enerégica é grave e entrou numa nova fase". Ursula garante que "só uma resposta europeia comum pode reduzir os custos energéticos para as famílias e empresas e fornecer segurança energética para este e para os próximos invernos".
Mas não só a guerra impulsionou o programa Solaris. O uso de combustíveis fósseis para produzir energia, como o carvão mineral e o petróleo, estão com seus dias contados. As mudanças climáticas obrigam as autoridades a reduzirem a emissão de carbono para evitar o aquecimento global e, para isso, é preciso buscar fontes de energia limpa.
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Assim, a Agência Espacial Europeia lançou o programa Solaris, que pretende captar a energia do sol para trazê-la à Terra.
Apesar das dúvidas geradas sobre a viabilidade do projeto, John Mankins, ex-físico da NASA e especialista em energia solar espacial, acredita que seja possível colocar o programa em prática.
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Em entrevista à Financial Times, Makins falou que confia no método: "A ideia seria ir até o espaço, captar a energia solar e enviá-la à Terra, sem cabos".
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De acordo com o mesmo especialista, a tecnologia usada no programa funcionaria da seguinte maneira: "No espaço, coletamos a energia solar e a convertemos em microondas. Estes feixes de microondas são, então, enviados a um determinado local na Terra, onde serão novamente convertidos em eletricidade".
Diante disso, muito se perguntam se os raios solares que chegam ao solo terrestre não seriam suficientes para satisfazer nossas necessidades. De fato, segundo a revista Super Interessante, Elon Musk, diretor da SpaceX, empresa de sistemas aeroespaciais, disse: "É melhor colocar os painéis solares na Terra".
No entanto, a luz solar no topo da atmosfera é, em média, dez vezes mais intensa do que na superfície da Terra. Além disso, não dependeríamos do céu aberto nem do bom tempo.
Se lançado a uma órbita suficientemente alta, o satélite seria capaz de receber luz de forma contínua, podendo capturar toda a energia solar disponível, e transmití-la a estações receptoras.
O parecer da Agência Europeia Espacial, em seu site oficial é: "Já temos o conhecimento e a tecnologia próprios para realizar esta grande missão. Com a crescente necessidade de conseguir novas fontes de energia limpa e segura, o programa Solaris foi impulsionado com o objetivo de ajudar a transição da Europa para um mundo com menos emissões de carbono e mais abundância de energia."
Para ter-se uma ideia, os atuais satélites de telecomunicações que transmitem sinais de TV a partir de sua órbita são basicamente satélites de transmissão de energia. Solaris pretende usar uma tecnologia parecida, com a diferença que, neste caso, o satélite em órbita teria que ser muito maior.
Isto significa que o grande desafio é justamente construir e lançar um satélite com uma estrutura enorme, bem como diversos painéis receptores, na Terra.
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Segundo a ESA, "um único satélite de energia solar em órbita geoestacionária pode ter mais de um quilômetro de extensão, e sua estação receptora no solo precisaria ter mais de dez vezes este tamanho".
Mesmo com estas dificuldades, seus dirigentes são otimistas. O diretor geral da ESA, Josef Aschbacher (foto), disse: "A energia solar baseada no espaço seria um passo importante em direção à neutralidade de carbono e independência energética para a Europa".
Se por um lado os cientistas já têm o conhecimento básico para implementar o programa, por outro, o plano ainda está no papel. Não sabe-se ao certo o tempo que se levaria para construir toda a tecnologia e estrutura necessárias. Seguramente, mais de uma década. Será a solução?
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