Usar somente veículos elétricos pode ser um risco?
A rápida adoção de veículos elétricos tem sido vista como uma das melhores maneiras de combater as mudanças climáticas. Entretanto, o jornalista climático canadense, John Lorinc, alerta que esta tática pode ser um erro grave.
Em seu novo livro, 'Dream States', Lorinc salienta que os custos do carro elétrico são insustentáveis e os danos ambientais associados à sua produção e manutenção podem superar seus benefícios.
"Fugir dos motores de combustão interna é uma evolução tecnológica importante e necessária", admitiu Lorinc, durante uma entrevista a Don Pittis, para a CBC.
No entanto, Lorinc também observou que a transição para veículos elétricos somente seria possível graças à eletricidade composta principalmente por combustíveis fósseis.
"Automóveis elétricos são grandes objetos de engenharia que exigem uma grande quantidade de metal, bem como muitos componentes, fabricados em diferentes lugares", afirmou Lonric.
"Além da mineração, é necessário processar um grande número de minerais, para fabricar os componentes de um automóvel. Portanto, esta não é uma solução ideal para evitar estragos ambientais", acrescentou Lonric.
Lorinc não é o único especialista climático a alertar sobre as possíveis armadilhas da transição para veículos totalmente elétricos.
Alguns climatologistas europeus concordam que estes veículos podem aumentar as emissões mundiais de CO2.
Recentemente, a União Europeia proibiu automóveis à base de combustão interna (ICE), decreto que valerá a partir de 2035.
Sobre isso, o professor Frank Millo disse ao jornalista da Forbes, Niel Winton: “Veículos elétricos não são um trasporte de zero emissões”.
“A eletricidade usada para recarregar as baterias dos automóveis não é produzida a partir de fontes 100% renováveis”, disse Millo.
Millo é professor especializado em motores de combustão interna, na Universidade Politécnica de Torino, na Itália. Ele observou que é improvável que a rede elétrica da Europa seja totalmente renovável quando a proibição do ICE entrar em vigor, em 2035.
A simples proibição da venda de veículos com motor de combustão não resolve o problema, pois “deixa de lado uma parte significativa do processo completo, ao não considerar as emissões de CO2 relacionadas à fabricação de veículos e sua disposição final”, acrescentou Millo. E explicou: “Precisamos considerar todos os aspectos, usando a chamada Avaliação do Ciclo de Vida ( LCA)”.
Infelizmente, não há solução fácil para o problema das emissões de carbono no mundo.
Embora a transição para veículos elétricos tenha sido um grande começo para diminuir a mudança climática, garantir a produção mundial de energias renováveis é fundamental para o sucesso, de acordo com Millo.
Conclusões semelhantes foram feitas nos Estados Unidos, onde o debate sobre a recente Lei de Redução da Inflação, do presidente Joe Biden, desencadeou uma conversa mais ampla sobre a produção de energia elétrica nos EUA.
Em um artigo recente do Los Angeles Times, o redator Sammy Roth questionou as atuais políticas dos Estados Unidos de converter toda a frota de automóveis em veículos elétricos e propôs uma solução diferente.
“E se em vez de substituir os combustíveis fósseis por eletricidade renovável, focássemos em reduzir o uso de energia o máximo possível?”, disse Roth.
“O segredo para manter um clima estável é aceitar que nosso atual estilo de vida, pelo menos nos países desenvolvidos, é insustentável”, acrescentou Roth.
A afirmação de Roth não tem muitos adeptos, mas reduzir o consumo elétrico certamente ajudaria a frear os danos climáticos.
De um jeito ou de outro, o mundo precisa conseguir uma infraestrutura de energia renovável com rapidez, caso contrário, o planeta pode sofrer sérias consequências.